Mudança na rotina e na própria casa evita quedas e oferece segurança ao idoso
Cerca de 30% dos idosos sofrem fraturas ao cair. Em média, as quedas ocorrem uma vez por ano, sendo 70% dentro de casa
Matheus Piovesan
Pelo menos uma vez por ano, cerca de 30% dos idosos se fraturam ao sofrer uma queda, segundo o Ministério da Saúde. E, quanto maior for a faixa etária, mais alto é o índice de tombos, ultrapassando os 50% acima de 85 anos.
Com o passar dos anos, os passos ficam mais curtos, perde-se o equilíbrio e a noção de espaço, a massa muscular e a visão são reduzidas e o corpo fica menos flexível e mais frágil.
Estes agravantes inerentes à idade, somados a um ambiente residencial que não facilita o deslocamento e a execução de atividades corriqueiras, transformam os lares em locais de alto risco para acidentes. Segundo o Sistema Único de Saúde, é lá que ocorrem aproximadamente 70% das quedas.
Foi preconizando o bem-estar desta faixa etária que caminha para chegar a 2 bilhões em todo mundo em 2050, segundo a Organização Mundial de Saúde, que surgiu o termo gerontoarquitetura, uma arquitetura direcionada para a terceira idade. No Exterior, o conceito é mais difundido.
No Brasil de 20 milhões de idosos — e onde ainda vão viver mais de 64 milhões em quatro décadas —, esta arte de organizar o espaço urbano e residencial foi difundido de forma pioneira pela arquiteta Fabiane Azevedo, com mestrado em gerontologia biomédica pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). A meta, segundo ela, é tornar a vida mais prática e segura.
À primeira vista, os idosos costumam rejeitar as intervenções propostas por profissionais especializados. Qual deles gostaria de tirar de exposição o tapete que foi presente do enxoval de casamento e está exposto na sala de estar há mais de décadas? Nenhum. No entanto, os filhos, que são quem costuma encabeçar as mudanças, devem explicar que a estimada peça é bastante espessa e pode ocasionar em fraturas. Para o idoso, a casa está sempre segura, pois é o local onde vive há anos. Por isso, as alterações devem ser feitas com prudência.
— É preciso de um ato externo, mas isso não pode significar a perda de referências. Não se pode fazer uma devassa no local em que a pessoa morou a vida toda — explica Fabiane.
A resistência em fazer alterações na mobília é passageira, garante o médico Newton Luiz Terra, diretor do Instituto de Geriatria e Gerontologia da PUCRS:
— Com o tempo, eles acabam percebendo que uma haste afixada no box e outra ao lado do vaso sanitário podem salvá-los de uma fratura.
Uma simples queda pode deixar o idoso restrito a uma cama durante meses, pois o tempo de recuperação de uma fratura nesta idade é o dobro da registrada em outras faixas etárias. O geriatra destaca que a mais temida é a do fêmur, que requer internação hospitalar e cirurgia. Além disso, estudos apontam que um quarto dos pacientes que sofrem este tipo de fratura morrem nos 12 meses subsequentes — não do procedimento cirúrgico, mas de complicações, como pneumonia.
Algumas medidas preconizadas pelas Diretrizes da Associação Médica Brasileira, são orientar sobre os riscos de queda e suas consequências, realizar avaliações médicas periódicas (principalmente de visão e audição), investir em fisioterapia e exercícios físicos regulares, além de priorizar a qualidade da alimentação. O uso de medicamentos deve ser revisado com frequência, já que, segundo os especialistas, grande parte das quedas ocorrem devido a efeitos colaterais, como tonturas e confusão mental.
Quanto custa a adaptação básica*
> Banco de pés metálicos para ser utilizado dentro do box do banheiro: R$ 280
> Barra metálica de aço (40 cm): R$ 140
> Assento sanitário elevado: R$ 240
> Fita antiderrapante para degraus e escadas: R$ 5 (o metro)
* Valores aproximados em lojas especializadas consultadas por ZH
Osteoporose, um fator de risco
Anualmente, ocorrem no Brasil 121 mil fraturas no quadril causadas por fragilidade óssea. Segundo a Fundação Internacional para Osteoporose, o problema deve aumentar em 16% até 2020 e em 32% até 2050.
O problema é provocado pela osteoporose, doença progressiva ocasiona a redução da densidade dos ossos do corpo, facilitando a ocorrência de fraturas. Incide principalmente em mulheres após o período da menopausa. No país, uma em cada três pessoas do sexo feminino com mais de 50 anos apresenta a doença.
Para prevenir o problema, os médicos indicam o exame de densitometria, que mede a densidade óssea e serve para identificar se o paciente tem osteopenia, um estágio pré-osteoporose. A partir do diagnóstico, uma série de hábitos podem ser alterados para que o quadro não evolua, afirma a radiologista e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Densitometria Clínica, Beatriz Bohrer do Amaral.
Equilíbrio sem superpoderes
Desde o primeiro dia em que praticou TAI CHI CHUAN, a arquiteta Marly Diniz, 66 anos, sentiu uma melhora significativa na disposição. Praticante há nove anos da mistura de arte marcial chinesa com meditação, ela afirma que a diferença de flexibilidade entre o seu corpo e o dos amigos da mesma idade é grande.
— Os outros têm dificuldade para se abaixar ou se levantar. Eu sou o aposto. Se tiver que subir na árvore, eu subo — afirma a aposentada.
A explicação está na associação de movimentos circulares suaves com exercícios de respiração, concentração e relaxamento que impactam positivamente no equilíbrio, na força muscular, na flexibilidade e no controle da postura. Referendado pelo periódico British Journal of Sports Medicine em estudos recentes, a arte milenar foi confirmada como uma das atividades físicas mais indicadas para evitar quedas na terceira idade.
Marly (à esquerda), 66 anos, e Silvina, 68, afirmam que o
TAI CHI CHUAN dá o equilíbrio e a energia necessária para enfrentar desafios diários. Foto: Emílio Pedroso
À medida que pratica a atividade, que imprime calma ao movimento, a mente vai se pacificando, explica a professora com formação em Educação Física Maria de Lourdes Darcie, 51 anos.
— Aprendemos a usar a quantidade mínima necessária de esforço físico e mental. Por entender que os desafios são apenas experiências, o tai chi pode ser considerado um treino para a felicidade — analisa a professora.
Praticante de outra arte marcial, o kung fu, por mais de 20 anos, a dentista aposentada Silvina Moreno, 68 anos, destaca a melhora da visão e do equilíbrio, além do aumento da resistência. Desde que começou a frequentar as aulas, não teve mais gripe, apenas resfriados passageiros.
Adaptar a casa com barras metálicas no banheiro ou assentos sanitários elevados ainda não estão nos planos de Silvina ou Marly, mas a possibilidade não é rechaçada no futuro.
— Não é porque fazemos tai chi chuan que somos supermulheres. Temos melhores condições de saúde, mas não somos indestrutíveis. Precisamos nos cuidar e evitar armadilhas — brinca a dentista.
Dependente dos outros, jamais
Saudável e bastante ativa, a aposentada Ivone da Silva Oliveira, 80 anos, não quer saber de ninguém atrapalhando sua rotina. A moradora de Porto Alegre, que já foi proprietária de uma imobiliária, teve a casa adaptada pela filha para que pudesse viver a independência pela qual tanto prima. No banheiro, foram instaladas barras para auxiliar banho, no corredor, os tapetes foram retirados e, na sala, a mesa tem os cantos arredondados.
Foto: Emílio Pedroso
Prevenida, a viúva carrega mesmo dentro de casa, a tiracolo, uma bolsa de couro com o celular e o telefone sem fio. As alterações resultaram em um saldo positivo: até agora, não sofreu nenhuma queda na residência.
— Eu não sei o que é depressão. Toda semana vou ao salão de beleza para me pintar e me arrumar e viajo sempre que possível para a casa da praia — relata a aposentada, que realiza o serviço doméstico diário sozinha e perambula de ônibus pela capital gaúcha pagando contas em bancos.